Não há casal no mundo que não discuta o ciúme, que não vivencie o ciúme. Uns
levam o assunto com tranqüilidade, sentem ciúmes civilizados, que não tumultuam
a relação. E outros são atormentados por esta praga, não podem olhar para os
lados que o parceiro já fica de antena ligada. Uma chateação
cotidiana.
Isso é cuidar do relacionamento? Isso é prova de amor? De
certo modo, sim, é um zelo, um carinho – desde que as proporções sejam
razoáveis. Você não quer perder seu amor para outra pessoa, então fica de olho.
Não dá pra dizer que é uma insanidade, você está apenas reafirmando a posse do
que julga ser seu.
A sensatez vai pras cucuias quando o ciúme não está
mais relacionado ao presente, e sim ao passado de quem você ama, um passado que
não foi compartilhado, um passado que você não conhece, um passado onde você não
existia, onde você não foi traído, portanto.
Mas uma garota não quer
saber de sensatez quando sente uma dor profunda ao ver, por exemplo, fotos do
namorado cinco anos atrás, feliz da vida ao lado de amigos e amigas que ela não
conhece. Ela sente ciúme dos discos que foram comprados antes da relação
começar, sente ciúmes dos presentes que foram recebidos antes, sente ciúmes de
roupas que foram compradas sem a opinião dela, sente ciúmes das alegrias que
foram vividas bem longe da sua presença. Como você pode acreditar quando ele diz
que não consegue se imaginar sendo feliz sem você, se cinco anos atrás ele
estava passando férias em Trancoso com um sorriso de orelha a orelha? Algumas
pessoas não colocam os pés em lugares onde seu amor foi feliz na companhia de
outros. Se ele foi feliz em Trancoso, que Trancoso arda em chamas!
Já não é ciúmes o nome disso. Já nem mesmo é amor.
Martha Medeiros
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