sábado, 23 de julho de 2011

FALTA GENTE


Não é a falta de equipamentos pesados ou o custo dos insumos o que mais preocupa o setor da construção pesada, e sim a falta de mão de obra qualificada. Um estudo inédito da Associação Brasileira de Tecnologia em Equipamentos e Manutenção (Sobratema), feito com base nos números de produção e venda de máquinas e em demandas como as obras da segunda edição do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2), aponta que até 2015 a quantidade de máquinas pesadas para infraestrutura com até dez anos de uso no Brasil passará dos atuais 146 mil para 313 mil – fora as máquinas para agricultura, mineração etc. Se isso ocorrer, estima-se que serão necessários mais de 160 mil novos operadores para cada uma dessas novas máquinas, além de cerca de 40 mil engenheiros e técnicos gestores – para cada quatro equipamentos precisa-se de, ao menos, um desses profissionais.

“Em um cenário em que já sofremos com a escassez de pessoas qualificadas, isso é bastante preocupante, sem contar os trabalhadores necessários para a manutenção e o mercado de reposição de peças dessas máquinas”, alerta o coordenador de pesquisa da Sobratema, Brian Nicholson.

No Paraná, setor está travado

Diferentemente do boom que vive a construção civil, a falta de projetos e a demora na abertura de licitações estão travando o setor de infraestrutura – a chamada construção pesada – no Paraná. O setor pede mais celeridade ao governo estadual na elaboração de projetos, orçamentos e também na criação de um instrumento legislativo que permita logo a realização de parcerias público-privadas, já que faltam recursos próprios para as intervenções necessárias.

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Dificuldade de adaptação e distância da família afastam operários

Telêmaco Borba - De acordo com o engenheiro civil Wagner Nunes Martins, gerente de concreto na obra da Usina Hidrelétrica de Mauá – que está sendo erguida entre Telêmaco Borba e Ortigueira, nos Campos Gerais –, um dos motivos para a escassez de mão de obra na construção pesada é a dificuldade de adaptação. “Nosso índice de acidentes de trabalho está bem abaixo do que o admitido pelos padrões nacionais, mas o fato de trabalhar em grandes alturas às vezes assusta um pouco e afasta alguns trabalhadores”, afirma.

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São trabalhadores com conhecimento técnico mais apurado que os da construção civil e, por isso, mais “caros”. Enquanto um trabalhador da construção civil ganhou, em média, R$ 1.242 por mês em 2010, o do setor de infraestrutura recebeu R$ 1.707, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

É essa alta remuneração da construção pesada – que pode chegar a R$ 4 mil no mercado – que está atraindo mais pessoas, ainda que em ritmo mais lento que outros setores. Nos últimos 12 meses, segundo os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego, os oito segmentos que correspondem ao setor de infraestrutura cresceram apenas 2,77%, frente aos 8,08% da construção como um todo e 6,41% do total do mercado formal. No Paraná, o crescimento geral foi de 3,43% no mesmo período, mas, no segmento que envolve rodovias, ferrovias, obras urbanas e obras de arte especiais, houve descrécimo de 13% – um dos indícios da falta de obras no estado (leia mais nesta página).

Capacitação

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Pesada no Estado do Paraná (Sintrapav-PR), Raimundo Ribeiro dos Santos Filho, conhecido como Bahia, diz que tem enfrentado dificuldades na aplicação de recursos públicos para a capacitação dos trabalhadores da área. “Normalmente esse treinamento se daria pelos recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), mas algumas exigências, como a priorização de beneficiários do Bolsa Família, dificultam tudo. Deveria haver uma flexibilização dessas regras para capacitar quem está atuante, na obra, e também um incentivo maior ao investimento das próprias empresas nessa capacitação.”

Diante das possibilidades futuras da construtora JMalucelli – ela está de olho nas novas rodovias do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) em todo o país, no novo leilão de hidrelétricas da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e nas obras de expansão de ferrovias, sob o comando da estatal federal Valec –, o diretor Celso Jacomel Junior, concorda que as empresas precisam investir no treinamento dos funcionários, mas reclama da carga tributária e de outras exigências da CLT. “Quando vemos o Brasil como um todo, não só na construção, mas em outros setores, vemos que já passou da hora de revisar parte das regras trabalhistas, desonerando o empregador.”

Falta de união

Laertes Vieira, gerente do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) de Rio Branco do Sul – unidade que concentra a maior parte da formação da construção pesada pela entidade no estado –, diz que falta união do segmento para a capacitação de trabalhadores. A exemplo do fizeram os setores de vestuário e fabricação de cimento, ele diz que as empresas de construção pesada também deveriam se unir, em um pacto por capacitação, pontuando suas necessidades em números e destinos.

Para a operação de diferentes máquinas, de caminhões basculantes a empilhadeiras, a unidade de Rio Branco do Sul forma de 300 a 400 trabalhadores por ano. “Estamos investindo nisso, agora também com simuladores para as aulas e com planos de introduzir cursos também para retroescavadeiras e escavadeiras. Mas só a união do empresariado vai nos dar o tamanho certo da demanda.”


GAZETA DO POVO

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