quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

É O BICHO


A origem do jogo do bicho, atividade tipicamente brasileira, remonta ao fim do império e início do período republicano.
Jornais da época contam que para melhorar as finanças do jardim zoológico, localizado no bairro da Vila Isabel, em dificuldades financeiras, no Rio de Janeiro, o senhor de terras e escravos João Batista Viana Drummond, criou uma loteria em que o apostador escolhia um entre os 25 bichos do zoológico.
Os bichos eram representados individualmente pela seqüência numérica de quatro unidades, compreendidas de 00 e 99 nos dois dígitos finais, haveria 25 bichos que respeitada a sua ordem alfabética eram distribuídos em progressão aritmética múltiplas de quatro de 00 a 99. Ao final do dia, os organizadores do jogo revelavam o nome do bicho vencedor e afixavam o resultado num poste, o que até os dias de hoje continua sendo feito.
O jogo do bicho permitia apostas de "simples moedas a tostões furados", e isso em uma época em que a recessão tomava conta do Brasil. Essa modalidade de jogo rapidamente se alastrou pelo país e tornou-se para o pobre algo comparável à bolsa de valores para os mais abastados.
Desse modo, quase sempre "investindo" com poucas moedas, o apostador nunca deixava de "aplicar" na sua "bolsa de valores", talvez a maior a céu aberto do mundo, e que deu origem à expressão: "só quem ganha é quem joga".
A organização do jogo de bicho preserva uma hierarquia como a de atores, teatro e platéia (banqueiros, gerentes e apostadores).
Nessa hierarquia, o "banqueiro" é quem banca a totalidade do jogo e quem paga a banca. O "gerente de banca" ou do ponto, é quem repassa as apostas ao banqueiro e o prêmio ao vendedor. O vendedor é agregado ao gerente de banca e é quem escreve e quem intermedia pagamento entre o apostador e o gerente. A banca e o ponto não necessitam de um lugar fixo para operar e seus funcionários são freqüentemente encontrados nas ruas sentados em cadeiras ou caixas de frutas. Em outras regiões do Brasil , pode-se entrar em contato por telefone, e um motoboy vêm buscar o jogo em sua casa ou trabalho.
O jogo do bicho tem algumas regras que estipulam limites nas apostas: um exemplo é a "descarga" de alguns números muito apostados, como o número do túmulo de Getúlio Vargas ou número do cavalo no dia de São Jorge. Para alguns organizadores os números muito jogados são cotados afim de evitar a "quebra da banca" tanto por parte das bancas de apostas como durante a apuração no sorteio.
Pelo fato de ser uma atividade que envolve dinheiro não controlada pelo governo, o jogo tem atraído a atenção das autoridades corruptas e criou-se um complexo e eficiente sistema para a realização da venda de facilidades.
A Paraíba é o único estado da Federação onde o jogo do bicho é considerado legal. As "corridas" (extrações dos números premiados) são feitos pela Loteria do Estado da Paraíba (Lotep) e o estado cobra taxas dos "banqueiros". Em razão disto, não é explorado pelo mundo do crime. Outros estados como Pernambuco usam as "corridas" da Paraíba como resultado oficial. Corre uma história de que durante a ditadura militar, o presidente Castelo Branco, numa reunião da SUDENE em Recife, teria cobrado do então governador João Agripino a extinção do jogo na Paraíba. Agripino teria respondido ao então presidente: "Acabo com o jogo do bicho na hora em que o Senhor arranjar emprego para os milhares de paraibanos que ganham a vida como cambistas". E o jogo continua livre.

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